segunda-feira, 10 de março de 2014

das coisas que se foram, effusus #12

As altas horas da noite, alguns copos e um bom grupo de amigos são sempre meio caminho andado para conversas mais, digamos, profundas. E eis que me vejo sempre do lado dos descrentes, dos que não têm qualquer tipo de fé em coisa nenhuma. Porquê? Vejamos...

Deixei de acreditar em deus (sim, nem à maiúscula acho que tenha direito) ainda pequenina. A minha irmã tinha um amigo imaginário, o Humberto. Demorei algum tempo a perceber que os adultos também tinham um amigo imaginário, esse muito mais grandioso e magnífico mas na sua essência igual - invisível, inexistente, imaginário. Deixei de acreditar na esperança, embora já mais tarde. Depois de mais de um mês agarrada ao telefone, à espera de novidades de quem estava agarrado a uma cama de hospital, o nada. E por muita esperança que houvesse, por muitos desejos de melhoras, foi-se um alguém sem nunca ter oportunidade de dizer adeus. Deixei de acreditar em sempres aos dezoito anos. Foram muitas as juras e as promessas, os 'nada vai mudar'. E de repente era como se não tivéssemos crescido todos juntos, como se não se tivesse passado uma vida. De repente éramos estranhos. Não houve sempre que nos valesse.  Deixei de acreditar no amor também. Não sei o quando, não sei o porquê, não sei se alguma vez acreditei. Acho que duas pessoas podem ser felizes juntas, mas tudo o resto é demasiado utópico, demasiado fantasioso, demasiado mentira.

E mesmo assim sou feliz. Acredito em quê? Em nada. Em tudo. Em mim. Nos outros. Nas pequenas coisas. Nos finais felizes de todos os dias.

1 comentário:

  1. exceptionalmente escrito :)

    sobre os amigos, mais importante do que serem "reais" ou "imaginários" (whatever that means), é a influência que têm sobre a nossa vida e as nossas acções :)

    ResponderEliminar

deixa tu também letras soltas no caminho