segunda-feira, 23 de agosto de 2010

a minha última carta.


Fui a culpada de tudo por muito tempo e este é o ultimo texto que vou redigir, pelo menos para já, é melhor parar com a escrita. Acho que as palavras nos levaram aquilo que sempre temi, mas que fui superando aos poucos, agora tornou-se demasiado vizinho da minha casa, e não sei, mas acho que é melhor acabarem-se os textos longos e as listas de desejos. Não posso exigir nada de ti, nada de nós, porque se te quero dar e sempre que dou renasce algo novo para dar, não posso exigir receber o mesmo da tua parte. Houve um tempo, que hei-de guardar sempre no meu coração. Um tempo em que nos abraçávamos em lençóis brancos, um tempo em que ainda havia sonhos e ainda havia sorrisos. Tive de parar um bocado, sentar-me a um canto deste chão frio e escrever-te, como se fosse a última vez em que o fizesse ou em que o pudesse fazer.

Talvez um dia a nossa história já não exista, já não seja relembrada nem sequer vivida, mas sei que eu vou relembrar, porque é algo forte demais. Como te disse uma vez, desculpa partir todos os pratos da nossa casa, mas pelo menos nunca te fechei a porta, nunca te pedi para saíres, só queria que superássemos e apanhássemos os cacos juntos, porque não sou só eu que parto , não sou só eu que grito. Sempre me disseram que gritar era bom, que gritar libertava a alma mas eu agora não consigo gritar mais, acho que engulo em seco e nem vontade tenho. A minha vontade é enfiar-me na cama e não acordar já, acordar daqui a uns dez , vinte anos e ter passado isto tudo. Mas não sei. Acho que tenho de parar de chamar o teu nome, deixar de ter o teu número decorado e parar de exigir o que tu não queres. Desculpa. Nunca te quis magoar, nunca quis que isso acontecesse, mas parece que sim. Parece que o fiz mais que algum dia podia imaginar, só quero poder guardar a boa imagem que tenho de ti no meu coração e queria esquecer. Mas a garganta ainda está com um nó cego, o coração já não me vem visitar e foi contigo, e eu já não sei onde é que ele está. Já não sei abrir a caixa do correio porque sei que não vai ter nada teu, porque sei que (infelizmente) as cartas deixaram de existir, os sorrisos deixaram de ser trazidos pelas andorinhas e o sol encobriu-se. Sei porém que o amor é algo que não se esquece, que podemos ter dito muita coisa mas só nestas alturas é que medimos a altura daquilo que sentimos , e hoje sei que é amor (de verdade) aquilo que sinto por ti. Talvez um dia eu consiga parar de chorar, de relembrar o teu cheiro na minha almofada ou de sentir o teu toque na minha cara como a última vez em que os teus olhos mergulhavam nos meus, mas eu sei no fundo que para já é impossível exigir isso de mim própria. Achei que talvez fossemos eternos mas ontem tive a certeza que não. Não da minha parte, mas tive a certeza que o teu maior desejo era um ponto final e um final no livro. Eu queria escrever mais , mas agora sinto que serão só estes monólogos. Sinto que de qualquer maneira foste embora, que o teu sentimento pertencerá a outro momento, a outra história e o meu maior desejo, é a tua felicidade. Não sou orgulhosa nem egoísta, eu errei, de qualquer das maneiras , fui eu. Por isso, estou a fazer figas, estou a fechar os olhos e a olhar para as estrelas, com a chuva a cair-me na cabeça e a pedir para ser feliz. Eu não tenho mais força para me levantar, acho que desta me cortaram as asas, não sei se foram as palavras , ou a maneira que as disseste mas as palavras conseguem ser brutas. Prometo que um dia vou deixar de ter a necessidade de dormir com o peluche, prometo que um dia vou deixar de ser a menina ciumenta, a menina que causou todas estas confusões entre nós. Mas prometo também deixar de ser esta menina. Porque perdi demais por ser assim, por gostar das pessoas, por dar tudo por quem vai sempre embora. Acho que já não sei onde vou estar, passei o tempo a ajudar os outros, a ir a correr a sítios que ninguém iria por mim, a dizer coisas que nunca achei fáceis, a sonhar e a ajudar nos sonhos. Achava-me capaz de ajudar toda a gente, hoje já não. Hoje , já não sou capaz de me ajudar a mim mesma, precisava de me levantar, mas hoje não tenho força. Desculpa por ter sido assim, por ter sido parva, egoísta, ciumenta, falsa, estúpida , criança, infantil, causadora de todas estas coisas. Desculpa se não pensei em ti, se não te dei o suficiente , se não te fiz sentir o suficiente, mas dei muito de mim, dei tudo de mim. E se não acreditares, se tiveres dúvidas, se algum dia te perguntarem por mim, antes de responderes lembra-te de tudo o que passamos juntos, pode não ter sido muito, mas também não merece ser pintado de negro. Não te peço por mim, peço-te por aquilo que fomos, porque acho que é algo que pelo menos, merece respeito.E eu gosto de ti, gosto demasiado de ti. Mas agora está na altura de descalçar os sapatos e ir contar estrelas, falar com a lua, ou imaginar-te a ti. Porque é a única coisa que consigo fazer direito, sonhar contigo. E saber, que te amo, é a única certeza que tenho.

Desculpa por não ter sido capaz de ficar .

Foste a melhor coisa que me aconteceu até hoje; Posso não ter sido o teu primeiro grande amor, mas eu tenho a certeza que foste o meu, e não sei o que vai acontecer a seguir, mas agora, agora está a acontecer isto.


Amo-te muito (nunca te esqueças)

ps: sem exigências, podes não responder

3 comentários:

  1. E agora Isa, deixaste-me boqueaberta e sem palavras. Deixaste-me sem fôlego e de coração aos pulos.

    Precisei tanto de ter escrito algo assim há uns tempos. Agora já é recordação...

    Obrigada por partilhares um texto assim...

    Força e acredita... Deixa o mundo girar.

    Bj*

    ResponderEliminar
  2. UAO :O já há algum tempo que não havia uma lágrima que me percorresse o rosto desta maneira ao ler um texto!

    adorei =)

    ResponderEliminar
  3. Que texto, que profundo! Adorei mesmo

    ResponderEliminar

deixa tu também letras soltas no caminho